terça-feira, 24 de maio de 2011

A PRIVATIZAÇÃO DO PUBLICO

             Antes de chegar ao meu local de trabalho, na manhã desta terça feira, passo numa banca de jornal e leio a manchete de "O Globo" em letras garrafais: "PRINCIPAL ASSESSOR DE PALOCCI É DONO DE CONSULTORIA PRIVADA". Então me peguei a pensar nessa coisa da relação público-privado no Brasil.  Aí, "sem querer querendo" (!), me pus a refletir sobre esses dois conceitos tão importantes para a manutenção de uma sociedade que se diz livre e democrática realmente. Afinal, o que é público e o que é privado? Até onde vão os limites entre um e outro? Quais são as possiveis interferências de um sobre o outro? De que forma as nossas autoridades, ou seja, as pessoas revestidas de poder, seja de que esfera se trate, costumam relacionar o público com o privado?
           A constatação (triste) a que eu cheguei foi a seguinte: no Brasil, quem quer que esteja no poder, ainda que seja um poder bem pequeno, um "poderzinho" qualquer (um chefe de seção, por exemplo) mistura os dois âmbitos. Em  geral não se "publiciza" o privado, mas se privatiza o público! Explico-me: nenhuma autoridade utiliza o seu carro particular para realizar alguma tarefa relativa a sua função, mas sim o contrário, quer dizer, se usa o carro oficial, com gasolina e manutenção pagas pelo bolso dos pobres contribuintes, para fins privados, como levar os filhos para a escola ou a madame ao shopping. Parece que o verdadeiro dono do automóvel não é o estado, mas sim o eventual ocupante de um cargo público. E dai seguem-se outros tantos exemplos, pequenos e grandes, desta criminosa apropriação dos bens públicos pela autoridade enquanto pessoa física, privada.
           O que acontece com o Ministro Palocci é apenas uma pequena amostra (que não é "grátis', porque somos nós que pagamos...) de uma realidade mais abrangente. Trata-se, na verdade, de uma mentalidade bem sedimentada ao longo da história desse país, a qual o PT tão somente vem dando continuidade. As chamadas "informações privilegiadas", guardadas a sete chaves pelos executivos do governo, sobretudo no campo da economia, fazem parte do patrimônio público mas são vendidas sem nenhum pudor no mercado como se privadas fossem. É claro que isso dá muito dinheiro, suficiente para fazer a riqueza desses executivos bem rapidinho. Palocci enriqueceu vinte vezes mais em apenas quatro anos? É pouco!
       A tristeza que sinto se baseia principalmente no fato de que o Partido dos Trabalhadores, que sempre empunhou a bandeira da ética na política e chamou de ladrão todo mundo, vai se afundando cada vez mais nesse mar de lama. Quem nos salvará afinal?

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