O TREM-BALA

Aprendi desde menino, na minha querida Escola Castro Alves, que o Brasil é o país dos contrastes. Agora,  homem feito (e quase velho...),  me convenço cada vez mais da verdade que naquela época não passava de uma simples afirmação teórica. 

Pois é.  A licitação para a construção do famoso "trem-bala", que deverá fazer a ligação entre Rio e São Paulo, deveria ter ocorrido ontem, segunda feira, mas não aconteceu por falta de concorrentes. As grandes empreiteiras nacionais (OAS, Odebrecht, Carmargo Correia, etc.). e mesmo alguns grupos estrangeiros estão com um pé atrás, e desse jeito o trem não pode ir para frente. Orçada em alguns bilhões de reais, a construção precisa do apoio substancial dos cofres da "viúva", uma vez que os mega-empresários, como sempre, aliás, querem ver os lucros, se possível, com um mínimo de despesas possível. Nada de mais, isto se chama capitalismo.

Mas o que eu gostaria de colocar para a reflexão dos meus leitores e leitoras no dia de hoje é o seguinte: será nas atuais circunstâncias precisamos realmente de um "trem-bala"? Não seria mais razoável pegar toda essa montanha de dinheiro e investir, por exemplo, na conclusão dos sistemas de metrô, a maioria ainda parados em várias capitais brasileiras? Diante do caos do transporte público, em grande parte dependente de um único meio chamado ônibus, não se poderia pensar em outras alternativas? Ora, esse tal de "trem-bala" resolveria, de fato, o problema ou não passaria de mais uma enganação do governo? Tudo bem, os usuários engravatados da ponte Rio-São Paulo vão ficar super satisfeitos. Mas, e a imensa maioria do povo que vive sofrendo, gemendo e chorando neste vale de lágrimas intitulado transporte coletivo?

O Brasil é o país dos contrastes. De um lado, altas tecnologias de transporte a serviço de uma minoria privilegiada e da demagogia oficial. Do outro, as filas intermináveis, o empurra-empurra dentro das latas de sardinha que rodam nas grande cidades. O transporte público é uma porcaria, mas em compensação teremos daqui a alguns anos um "trem-bala" moderníssimo. O povão vai continuar sofrendo, mas terá orgulho do seu país.