Desconfio que o Natal está chegando porque vejo nos shoppings da cidade as mesmas decorações de sempre, isto é, bonecos de neve, trenzinho, árvores gigantescas, casinhas de boneca e o indefectível (ops!) Papai Noel sentado numa cadeira vermelha, rodeado de crianças chatas. Aliás, esse parece que é o passeio ou o lazer preferido de 10 entre 10 mães: ir ao shopping tirar fotografias de seus filhos sentados docemente no colo amoroso do "Bom Velhinho" (existiriam "maus velhinhos", por acaso?).
No meu tempo de criança já existia "Papai Noel", mas ele não morava nos shoppings, muito pelo contrário, habitava o reino da imaginação infantil e só aparecia na madrugada, na virada do dia 24 para o dia 25 de dezembro, para trazer nossos humildes presentes e coloca-los debaixo da cama. A gente ficava esperando, esperando, até que pegava no sono...
O amanhecer do dia de Natal então era cheio de surpresas. Ah! como era esperada, como era sonhada esta linda manhã de Natal! Passávamos o ano inteiro ansiando por este alvorecer! Ao pular da cama, as vezes mais cedo do que o habitual, emborcávamos debaixo das nossas camas pra vermos o que o Papai Noel tinha deixado por lá. E agora eu me lembro daquela canção "Seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem..." Era assim mesmo: até as crianças mais pobres recebiam o seu presentinho. Com qualquer besteira, uma boneca, uma bola, ou o carrinho de plástico já era motivo de alegria por pelo menos uns dois ou três dias. Tudo era muito simples, pois não havia por parte das crianças em geral exigências do tipo "quero isso, quero aquilo", coisas que não estavam ao alcance do poder aquisitivo (ops!) dos pais naquela época. Por outro lado, também, é claro, o mundo não dispunha de tantas opções de presentes e a propaganda era quase ingênua, o que por si só já colaborava para que o clima fosse de muita simplicidade nas famílias.
Meu sonho era ganhar um "Autorama", brinquedo "tecnológico" sofisticado da Estrela. Nunca ganhei, mas nem por isso precisei de psicólogos, e hoje não me considero um homem desajustado (embora o mano Caetano Veloso tenha dito, com uma certa razão, que "de perto ninguém é normal"). Assim, contentei-me com os presentinhos baratos que minha mãe comprava e botava debaixo da cama na noite de Natal. Tenho certeza de que aquelas lembrancinhas singelas carregavam uma dose muito forte de amor. É isso o que importa, afinal de contas!
Sinceramente não gosto desse mundo dos shoppings, muito menos de suas decorações americanizadas. É tudo absolutamente igual todos os anos em todos os shoppings. Além do mais, por aqui não temos neve pelo amor de Deus! Me deixem aqui com as minhas doces recordações. Talvez na velhice (se ela vier antes da minha partida...) ainda compre um autorama ! Não dizem que velho volta a ser menino?
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